Manaus – Um caso chocante de violação de direitos humanos veio à tona nesta quinta-feira (5), quando uma mulher de 34 anos foi resgatada em situação análoga à escravidão no bairro Ponta Negra, uma das áreas mais nobres da capital amazonense. Ela passou 22 anos trabalhando sem salário, sem estudo e em condições precárias na casa de uma família que a havia levado ainda criança com falsas promessas.
Segundo os órgãos envolvidos na ação – Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Ministério Público do Trabalho (MPT), Polícia Federal (PF) e Defensoria Pública da União (DPU) – a vítima foi levada para a residência aos 12 anos com a promessa de abrigo e oportunidade de estudar. No entanto, nunca teve acesso à escola e passou a executar tarefas domésticas e auxiliar na produção de doces vendidos pela própria família exploradora.
Durante mais de duas décadas, ela trabalhou para diferentes membros da mesma família, recebendo apenas comida, moradia e, eventualmente, quantias simbólicas de dinheiro, sob a justificativa de que “fazia parte da família”. Na realidade, vivia em um quarto sem guarda-roupas, sem ar-condicionado, sem higiene adequada e sem qualquer privacidade. Chegou a relatar que trabalhava descalça e, por vezes, não tinha nem shampoo para uso pessoal.
Resgate e reconstrução
A operação marcou o fim de um ciclo de abusos. A mulher recebeu apoio psicossocial da Sejusc e foi reintegrada à sua família biológica. Ela deverá ser indenizada pela exploração que sofreu ao longo de sua juventude e vida adulta.
O caso reforça a importância das fiscalizações e da denúncia de violações trabalhistas. Desde 1995, mais de 65 mil pessoas foram resgatadas de condições análogas à escravidão no Brasil, segundo dados do Radar do Trabalho Escravo. O governo federal, em parceria com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), mantém o Sistema Ipê (https://ipe.sit.trabalho.gov.br) para denúncias anônimas.